O Poeta e o Tempo
Jonas Caeiro
Exílio as coisas que
comprei de apego
Embora saiba que não
mais existiram os valores pra mim
Porque tenho gastado
tanta fortuna com besteiras
Somente pra levantar uma
quantidade de cosias preciosa
Gasto toda minha
riqueza em busca de uma cura,
Porque estou
envelhecendo fora do meu tempo,
Calçando sapatos
pequenos e calças de palhaços,
Por tomar doses de
violência no sangue.
Eu estou caçando todas
as vacinas de salvação
Pra me sentir um pouco
melhor amor
Porque sei que minha
vida era alegre
E o meu rosto também
era tão admirável.
Eu estou correndo
contra o tempo arruinado,
Apesar de ter toda
certeza do caixão,
Mas sei que sem luta
tudo vai ao chão,
Por isso que não canso
de comer o pão da vida.
Hoje em dia faço de
mim um poeta cortês
E mostro minha obra de
arte pra quem percorre,
O risco de um pedaço
de papel usado,
Rabiscado na neve feia
a beleza verde.
Eu guardo meu pobre
violão nunca aproveitado...
E juntamente as notas
conhecidas pelas mãos leves,
Tocadas pela força de
um amor invejável,
Que faziam todos
chorarem numa tarde de sol.
Ainda pra não me
esquecer da tristeza:
Eu invento poemas
gritantes,
Poemas energéticos,
poemas gigantes,
Poemas de Picasso.
Apronto os livros
ganhados e caros,
Lavo as mãos antes mesmo
de tocar o silêncio teu,
Mesmo que goste de
tanta tranquilidade,
Para um pouso de um
ninho.
Pra não mais soluçar
mato esse tempo
E escrevo de coração
pequeno a minha triste,
Pois é o que me resta
fazer nessa noite duvidosa,
Que nem chora, que nem
estremece, que nem dorme.
Vou te fazer entender
eu amanheço no verde de sua janela,
Lembrando que um dia
foi um só numa caminhada bonita,
Que logo chegamos ao
nosso leito de amor...
Eu quebro o meu
orgulho precioso de anos,
Eu te falo que sou um
poeta contra o tempo,
Falando sem receio
como sobrevivo sem o teu amor,
Eu me declaro numa
festa com balões e rojões.
Fecho na mesma
estupidez e arrogância,
Porque estou cansado
de minha sentença,
De minha longa prisão
do horror,
De minha longe beleza
do amor.