Abocanho
a tua vida com a fome do pobre
Jonas Caeiro
Abocanho a tua vida com a fome do pobre,
Abandonando apenas a limpeza do fundo da panela,
Repetindo com um prato cheio de alimento,
Porque tenho muita fome, que precisa cessar.
Acabo com o dia de fome me mantendo,
Mas o corpo necessita mais do que uma vez,
Precisando se alimentar o resta da vida
Do teu amor proibido e nítido.
Viro um mendigo pedindo poucas esmolas
E toco em suas mãos sentindo a vibração
De um sentimento quase esquecido
E mesmo assim não me distraio.
Bato em sua porta pedindo pedaços de fantasias
Pra não acordar de um sonho alegre
E te falo sem presa todas as dúvidas
Que o teu olhar me passa na hora.
Não me esqueço de dormir na cama da saudade
E vislumbro ao te encontrar de novo em meu sonho
E declaro que estou morrendo nesse momento,
Quando acordo e não te vejo morre um pedaço meu.
Não tem como evitar essa possibilidade
Porque deito no silêncio de minha alma
Revendo o quadro de nossa história
E me pego em choros sem segurar.
Nego-te a despedida em sonhos,
Porque são os melhores de você amor,
E sei que estou atrasado a tempo,
Mas sempre soube a verdade minha.
Não vivo mais o hoje nessa tarde de abril
Pois sou agredido por eles sempre
Sem ter um pouco de piedade
E retalhando o meu coração trincado.
Sou ousado nesse dia a escrever bem,
Porque desenho todas as noites dormido
Numa cama pesada por inúmeras lembranças,
E faço delas margens de todas minhas ousadias.
Acabo de ver as suas pinturas
Em um quadro de pano com madeiras,
Levadas até a mim sem pagar o preço,
Mas devo retribuir com algo valioso
A minha verdadeira pobreza
Que é o meu amor esmagado por você.
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