sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013



Navego em meu pequeno barco
Jonas Caeiro





Navego em meu pequeno barco,
Sem sentir muito medo, sem sentir calor,
Sem me assustar com  todas tempestades,
Com apenas brisas a me tocar em silêncio,
Revelando todos os seus segredos.

Paro no alto de uma montanha estranha,
Para me sentir melhor e descansar da viagem,
Pois procuro o amor que me deixou,
Que se assassinou no lamentar da perda.

Danço na chuva furiosa,
Cobrindo-se meus tributos,
Minhas sementes jovens,
Minha raiz envelhecida. 

Tento quebrar o tempo,
Com a velocidade da luz,
Pra chegar a minha casa,
A qual será desconhecida.

A hora da piedade, a hora pior, o dia pior,
Pois vejo dentro de uma caixa de fósforos,
Todos os sonhos perdidos, todas as esperanças arrancadas.
E o meu amor lançado no fogo do esquecimento.

É uma grande pena saber que não tive chance
De jorrar minhas lágrimas a você,
Pois foi embora sem saber do meu amor,
Nadando pro mar vermelho do interior.

Logo percebo que vem minha angústia,
Pois nadei até o fim dela,
Afogando meus ideais,
Meus desenhos perfeitos.

É triste a perda da herança,
A única esperança na vida pobre,
Que não paga qualquer sacrifício,
Do amor, do coração banido.

Assim, me seguro nas pinturas escuras,
Vista pelos olhos reais das artes invisíveis,
Do ponto de vista, do cego sem óculos.

Fico furioso, com todos,
Com tudo em minha frente,
Por terem culpa da minha dor sem cura,
Que me marca nessa época.

Visito minha tristeza numa lacuna,
Arranhadas por mim, pelas minhas unhas curtas,
Ferindo as cores dos olhos teus,
Os olhos da cor dos céus abertos.

Sinto que devo ir ao lugar de vida,
Havendo árvores secas,
Criadas pelas mãos dos pequenos,
Das pequenas crianças.

Então, nado no azul,
Na pintura que fiz nu,
Em espera do roxo,
Do toque alegre do azul turquês.

E chego a minha casa,
Conto as paredes com sinais,
Dos olhos de peixes,
Atravessando outro mundo irreal.

Um mundo que o outro lado não possa vê,
Nem apreciar com olhos de novidades,
Como se tivesse perdido, todos os sentidos,
A noção do real que conhece.

É impressionante toda essa pintura,
O jogar do xadrez, da dificuldade contemplada,
Perdendo todo agrado, o jogo de cores,
Apagados, apunhaladas pela vida injusta.

Desço colunas em forma de retângulos,
Cansando meus pés calçados,
De mentiras dos poetas verdadeiros,
Que sabem escrever sobre pinturas negras.
  
Caio num barco em movimento,
Deixando gotas nos levar ao destino,
Sem presa, sem cansar, sem contar,
Os minutos restantes do encontro.

Nos caminhos vemos dificuldades,
De enterrar diante dos olhos,
Toda beleza nascida dos artistas,
De uma arte pincelada nas presas.

Lembro-me de horas,
Que ficavas em minha cama,
Lendo livros teus,
Comprados pela metade do preço.

Tento fugir desse tempo,
Em busca do antigo protegido,
Para abraçar minha solidão,
Lavando a saudade dos olhos.

Então, faço a viagem mais incerta,
Buscando minha esperança,
Minha vida, minha felicidade,
Minha alegria, meu esquecido, do amor.

Eu enfrento as criaturas mais assustadoras que vi,
Em minha caminhada do desespero,
Do esquecimento, do valioso lembrar,
O amor ensinado a nós dois.

Por fim, o meu barco chega,
Conhece a triste realidade,
O pobre leito destruído,
Pelo fogo de ódio,
Que queimou nossos quadros.

Vendo isso não desistir,
Lutei até o fim da feiura,
Pra te reconquistar,
Tirando-te do abismo.

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