sábado, 16 de março de 2013


Se faltasse a gota da indignação
Jonas Caeiro





Se te acusar, não é primoroso,
Porque a impiedosa pintura morre;
Da arte fresca em modéstia grosseira,
Perdida no ódio que mais pede.

Enquanto gotas forem atiradas, a rebeldia
Que tens feri, que o perdão te alimenta,
Já que o desencontro no espinho juro,
É em ti violência a mais pura cegueira.

Da vaidade o lindo esconde soubeste,
Pisando o dia em dó da alma;
Mas não sonhes acreditando na neblina
Sina, que a memória produz, é insano.

Se faltasse a gota da indignação;
É o poema inteiramente moral,
Neste mesma estátua em revelo,
No perdoar amoroso da fantasia.

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